O Barroco foi um período do século XVI marcado pela crise dos valores Renascentistas, gerando uma nova visão de mundo através de lutas religiosas e dualismos entre espírito e razão. O movimento envolve novas formas de literatura, arte e até filosofia. No campo religioso, a Reforma (1517) contestou as práticas da Igreja Católica e propôs uma nova relação entre Deus e os homens.
Uma das propostas desse movimento foi a tradução da Bíblia para os idiomas nacionais, abrindo caminho para novas interpretações das Escrituras, deixando a Igreja dividida e enfraquecida. O poder central da Igreja teve que reagir rapidamente. Em 1563 tem início a Contrarreforma, que tinha como objetivo combater a expansão do protestantismo e recuperar os domínios perdidos. Portanto, a Europa do século XVII reflete a crise religiosa do século anterior. O homem europeu se vê dividido entre duas forças opostas: o antropocentrismo e o teocentrismo. O Barroco é a estética que reflete essa tensão, ou seja, o embate entre a fé e a razão, entre espiritualismo e materialismo.
Massacre de São Bartolomeu (Foto: Pintura: François Dubois/Reprodução)
A tela do pintor francês registra a fatídica noite de 1572, em que milhares de protestantes foram mortos em Paris a mando dos reis católicos franceses.
ARTE BARROCA
O Barroco tem manifestações nas artes plásticas, na música e na literatura. Cada esfera artística tem sua maneira de expressar a dualidade do homem barroco e sua tentativa de fundir valores contraditórios, como o gosto pelas coisas terrenas e a salvação pela fé.
Na pintura, é possível identificar o contraste entre claro e escuro. Como no exemplo abaixo, em que Caravaggio (pintor italiano) retrata a flagelação de Jesus.
A Flagelação de Cristo (Foto: Pintura: Caravaggio / Reprodução)
Na escultura, as dobras são agudas, as roupas costumam ser esvoaçantes e as figuras possuem um certo tom dramático. Uma das esculturas mais conhecidas do período é Êxtase de Santa Teresa, feita por Bernini.
O Êxtase de Santa Teresa (Foto: Escultura: Gian Lorenzo Bernini)
A arquitetura barroca é lembrada pelo excesso de ornamentação. O estilo foi muito utilizado na construção de igrejas. O exemplo abaixo é da Basílica de Santiago de Compostela.
Basílica de Santiago de Compostela (Foto: Wikicommons)
Na música de estilo barroco era comum o uso da polifonia e do contraponto. Um dos representantes mais importantes foi Vivaldi, responsável pela composição dos concertos "As quatro estações".
Vivaldi (1723) (Foto:
Literatura: uso de antíteses, paradoxos e inversões
“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegrias.”
A Inconstância das Coisas do Mundo (Gregório de Matos)
BARROCO NO BRASIL
As primeiras manifestações da literatura barroca brasileira ocorreram na Bahia, centro político e comercial da colônia durante o ciclo da cana-de-açúcar. Para muitos especialistas, os primórdios da literatura brasileira remontam a esse período. A justificativa é que, no século XVII, os escritores já nascidos na colônia teriam adaptado pela primeira vez uma estética europeia à realidade brasileira, colocando em prática uma espécie de “abrasileiramento” da linguagem literária.
Gregório de Matos (1633-1695)
Graças à sua poesia satírica, com termos de baixo calão e críticas abertas à sociedade baiana, o poeta ganhou o apelido de “Boca do Inferno”. Além de abordar temas clássicos do Barroco europeu, como a religiosidade, Gregório de Matos também se dedicou à lírica filosófica, explorando temas como o CARPE DIEM, lema latino cuja tradução seria “aproveite o dia”.
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata, a toda a ligeireza
E imprime em toda flor sua pisada.
Gregório de Matos. Expressões amorosas a uma dama a quem queria - a Maria dos Povos, sua futura esposa.
O homem barroco tem consciência da transitoriedade da vida e do tempo, por isso busca os prazeres terrenos, embora se sinta culpado por isso.
Padre Antônio Vieira (1608-1697)
Por onde passou ficou, ficou conhecido por seus sermões, discursos orais destinados aos fiéis sobre temas religiosos, bíblicos e morais. Porém, Antônio Vieira não se limitou à pregação religiosa, colocando seus sermões a serviço de suas ideias políticas e ideológicas. Em Portugal ganhou a antipatia da Inquisição ao defender o retorno dos judeus, perseguidos pelo tribunal, ao território português, para driblar a crise econômica. No Brasil, combateu com radicalismo a escravização dos índios e foi perseguido pelos colonos.
Antônio Francisco Lisboa, Aleijadinho (1730-1814)
Nas artes plásticas, o Barroco manifestou-se tardiamente no Brasil, pois se tornou viável apenas com o suporte dado pela descoberta do ouro em Minas Gerais, que resultou na construção de igrejas de estilo barroco ao longo de todo o século XVIII.
Aleijadinho, famoso durante o barroco (Foto: TV Globo)
Parte do Patrimônio Histórico da Humanidade, as esculturas de Aleijadinho, com seus olhares penetrantes, têm como característica a expressividade e a dramaticidade.
Elaine Brito Souza
Mestre em Literatura Brasileira pela UERJ
Padre Antônio Vieira nasceu em 1608, em Lisboa, e representa, sem dúvida, a maior expressão da eloqüência sacra de Portugal e um dos maiores escritores de seu século. Foi para a Bahia, ainda pequeno, onde recebeu ordenação sacerdotal e começou a atuar na Companhia de Jesus, que era um movimento cristão de catequização indígena, que discriminava a escravidão pelos colonos, ao mesmo tempo que também utilizava a mão-de-obra indígena.

Antônio Vieira se destacou por ser um pregador facundo, principalmente no que diz respeito aos seus sermões. A respeito destes últimos, eram impregnados de filosofia, o que o levava a se considerar um filósofo que tratava apenas de assuntos cristãos. Por algum tempo esteve politicamente envolvido com a Inquisição, período no qual foi acusado até mesmo de traição por defender, além dos índios, os novos cristãos, principalmente os judeus. Sofreu condenação, dita como branda, por parte da Inquisição: ficou preso por dois anos (1665-1667) e foi impedido de dar palavra. Vieira usou seu dom da retórica para falar com o papa a respeito desta condenação, o qual o absolve de toda censura ainda existente. Logo após, Antônio Vieira foi a Roma, onde assumiu novamente seu papel oratório. Em 1681, decidiu regressar ao Brasil, onde faleceu, em 1697, no Colégio da Bahia.
Podemos dividir a obra de Padre Antônio Vieira em:
• Profecias: constituintes de três obras: História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis prophetarum.
• Cartas: são cerca de 500 cartas, que tratam de assuntos sobre a relação de Portugal e Holanda, a Inquisição e os cristãos-novos. São tidos como documentos históricos importantes, já que tratam das diversas situações sócio-políticas da época.
• Sermões: são aproximadamente 200 sermões, com estilo barroco conceptista, que trata o assunto de maneira racional, lógica e utiliza retórica aprimorada. Um dos seus sermões mais conhecidos é o “Sermão da Sexagésima”, o qual é metalingüístico, já que tem como tema a própria arte de pregar. Além deste, temos: Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, Sermão de Santo Antônioe Sermão aos peixes.
Sermão da Sexagésima
Padre Antônio Vieira
(...) Quando Cristo mandou pregar os Apóstolos pelo Mundo, disse-lhes desta maneira: Euntes in mundum universum, praedicate omni creaturae: «Ide, e pregai a toda a criatura». Como assim, Senhor?! Os animais não são criaturas?! As árvores não são criaturas?! As pedras não são criaturas?! Pois hão os Apóstolos de pregar às pedras?! Hão-de pregar aos troncos?! Hão-de pregar aos animais?! Sim, diz S. Gregório, depois de Santo Agostinho. Porque como os Apóstolos iam pregar a todas as nações do Mundo, muitas delas bárbaras e incultas, haviam de achar os homens degenerados em todas as espécies de criaturas: haviam de achar homens homens, haviam de achar homens brutos, haviam de achar homens troncos,haviam de achar homens pedras. (...)
Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
MÚSICA BARROCA